domingo, 28 de outubro de 2007

Na semana que passou o país viu as imagens de uma tentativa de assalto à uma Lan House em Goiânia onde um policial que estava de folga matou os dois assaltantes.Diante da ameaça desse policial que reagiu ao assalto ser processado pela corregedoria da Polícia Militar a imprensa especializada em ''casos policiais'' e em violência urbana praticamente entrou em pânico.Os apresentadores desse tipo de atração justificaram a ação do policial demonstrando, através de videos de outros assaltos,a violência empregada pelos criminosos em outros atos criminosos e dessa maneira ressucitando a velha filosofia do ''bandido bom é bandido morto''na mídia brasileira.

Antes de tudo, é necessário que se diga que a ação do policial não pode ser considerada errada ou digna de punição,já que a ação não acarretou ferimento ou morte de vítima inocente e o policial mesmo quando não se encontra em serviço continua imbuído de suas obrigações de defender a lei.Talvez a única ressalva que se faça seja ao fato de o policial reagir a um assalto em local fechado e com um grande número de pessoas,o que poderia acarretar em uma tragédia com a morte de inocentes.

O que se torna incômodo nesse caso é a cobertura que parte da imprensa deu ao caso.Quiseram usar esse caso como o exemplo do que eles acreditam ser um efetivo combate a violência,ou seja,uma política de segurança pública baseada na matança,na tortura e no total desrespeito aos direitos humanos.Certos comunicadores vendem o sonho de uma polícia ''justiceira'',impetuosa no melhor estilo ''Tropa de Elite'' a um grande números de telespectadores, que muitas vezes se esquecem dos interesses(financeiros,políticos e etc.)por trás da mídia e absorvem aquela informação como uma ''verdade absoluta e inegavél'' .

Pelo Jeito, os citados comunicadores( seus fiéis e inocentes telespectadores e o cidadão ''senso-comum'') não perceberam que a política de segurança pública baseada no enfrentamento e na matança já vem sendo implementada há vários anos,com resultados extremamente negativos.O maior exemplo do fracasso dessa política é o estado do Rio de Janeiro que possuí a polícia mais ''impetuosa''do Brasil,e portanto possuí um incrível número de mortos pela polícia,mas não consegue diminuir seus indíces de violência ou diminuir a sensação de insegurança da população.

Tanto os comunicadores quanto o cidadão ''senso-comum''ignoram o que é obvio e se prendem uma idéia de personificação da violência na figura do bandido e se iludindo com a idéia de que a extinção do criminoso(s)leva a automática extinção da violência.

domingo, 14 de outubro de 2007

A réplica "narcoliberal"

Em artigo intitulado "O Argumento Narcoliberal", disponível no sítio do partido Democratas, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defende a manutenção da proibição da venda de entorpecentes. Em um breve artigo, ele critica o reforço da onda liberalizante, desencadeado pelo filme Tropa de Elite. O autor tenta desqualificar os argumentos supostamente defendidos por tais "narcoliberais", taxando-os de absurdos e adotando um tom de ridicularização de tais argumentos.

Demóstenes simplifica a questão ao encarar os "narcoliberais" como um bloco homogêneo, integralmente adepto da teoria do "libera-geral". Dentro do movimento pela liberação das drogas há uma grande diversidade de opiniões, muitas vezes conflitantes. Liberar que tipo de drogas ? De uma maneira gradual ou instantânea ? Quais estabelecimentos receberiam autorização para exercer tal comércio ? Tamanha simplificação ignora completamente o amplo debate existente entre os indivíduos que advogam a liberalização das drogas, assim como suas controvérsias.

Fazendo um paralelo com a publicidade do álcool e do tabaco, o autor faz piada acerca da sup0sta publicidade ridícula que surgiria após a legalização do comércio de entorpecentes ("Haveria a maconha da boa? A cocaína que desce redondo? O crack que satisfaz?"). A publicidade já é ridícula em sua essência, já que consiste em uma mera tentativa de despertar sentimentos que levem o espectador a consumir tal produto, independente das suas consequências. Os mercados de bebidas alcoólicas e de cigarros nada diferem dos mercados de outros produtos quaisquer, exceto na questão moral envolvida. Questão, aliás, que parece reger o argumento do senador. Tratando-se do caráter absoluto da moral, não existe relativização, logo, não existe o debate e a troca de idéias.

A questão da saúde também é abordada em seu artigo. Demóstenes calcula que a liberalização imediata das drogas geraria imensos problemas relacionados com o sistema de saúde pública. Tal idéia consiste em uma hipótese que novamente não leva em consideração o tipo de debate existente entre os defensores da liberalização das drogas. Também não leva em consideração as diferenças existentes entre a grande variedade de tipos de droga, que afetam o funcionamento do organismo de maneiras completamente distintas. Argumenta que o sistema de saúde é ineficiente e que a legalização só iria piorar tal quadro. Ora, trata-se de uma hipótese. Hipótese, porém, que é tratada pelo autor como verdade absoluta e inconstestável, sem nenhuma demonstração de dados.

O artigo realiza uma extrema simplificação dos fatos, que empobrece ainda mais o debate existente acerca dessa polêmica questão. O assunto das drogas permanece sendo um tabu, sendo discussões sobre tal assunto consideradas ridículas ou desprovidas de sentido. Tal postura entra em contradição até mesmo com o nome assumido pelo partido do referido senador. O debate democrático parece inexistir para Demóstenes Torres, sendo a liberalização das drogas uma coisa absurda e impensável, assim como a sua reflexão completamente desnecessária e obrigatóriamente infrutífera.

domingo, 7 de outubro de 2007

Revista VEJA e Che Guevara

A penúltima edição da revista VEJA trouxe à sua capa a figura de Che Guevara, indício claro de que o personagem histórico seria alvo de no mínimo alguma palavra de baixo calão. VEJA se destaca ao exercer, em escala nacional, o papel de maior veículo de divulgação do pensamento da direita brasileira. Nenhuma surpresa o fato da figura de Che Guevara ser vista com repugnância pelos editores da revista, assim como da maior parte de seus leitores.

Guevara após sua morte tornou-se um mito. A idealização erguida em torno da sua figura foi uma consequência do processo de romantização das lutas revolucionária das décadas de 60-70. Milhões de jovens por todo o mundo vestiram camisas com sua imagem, muitas vezes sem possuir o menor conhecimento à respeito dos eventos ocorridos em Cuba em 1959. A figura do revolucionário, a partir daí, esteve sempre muito ligada à insatisfação típica da juventude. Muitas vezes o ato de vestir a camisa com a imagem do revolucionário consistia muito mais em uma simples demonstração de rebeldia infundada do que de admiração à pessoa em si.

A reportagem de VEJA tenta desconstruir essa imagem mítica do revolucionário. Uma tentativa justa e legítima, tratando-se VEJA de uma revista de interesse geral. O erro consiste no tipo de abordagem utilizada para realizar tal desconstrução: o destaque de aspectos negativos da sua personalidade, baseada em depoimentos de militares bolivianos e agentes da CIA infiltrados. A partir daí, conclui VEJA tratar-se Che de um sujeito arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco, paranóico, e mais um rol de adjetivos que parecem descrever a figura do próprio Satanás. Essa abordagem extremamente simplista e maniqueísta soa como ridícula, rebaixando o nível do jornalismo de VEJA a um patamar subterrâneo.

Tal atitude demonstra descaradamente a linha ideológica da revista, sempre orgulhosa de sua suposta imparcialidade. Erros e reportagens ruins existem por toda parte. O que realmente é incômodo é o fato de uma revista como essa ser reconhecida como a mais importante e influente revista semanal do Brasil, sendo considerada leitura obrigatória para qualquer cidadão desejoso de estar "antenado" diante das questões nacionais. Isso soa como ofensa ao bom senso. Dentro do meio jornalístico, VEJA é vista como piada: dedicam-se aulas inteiras de faculdades de Jornalismo para apontar os gritantes deslizes cometidos por VEJA.

Che de fato pode ter sido de fato arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco e paranóico. Mas seria um ato de extrema ignorância negar a sua importância no processo histórico do Século XX. A tentativa de VEJA é atirar a figura de Che ao ostracismo, relegando-o a um mero acidente ocorrido na história de Cuba. Acentuar as características pessoais de um personagem histórico consiste em uma tentativa atrair o interesse superficial da maioria das pessoas pelo assunto, rebaixando a história a uma mera coleção de perfis biográfico de um rol de indivíduos . A VEJA comete uma ofensa à disciplina histórica ao realizar uma reportagem tão patética e desprovida de senso jornalístico.

A idealização em torno da figura de Che Guevara é um terreno fértil para inúmeras reflexões e discussões que possuem uma grande probabilidade de serem produtivas. A reportagem não conseguiu atender a essas expectativas. Eis a explicação de seu sucesso: a ausência de reflexões mais bem elaboradas e a simplificação dos fatos, assumindo a revista um caráter de panfleto. Poderemos esperar nos próximos meses a diminuição do uso de camisas de Che Guevara, devido à influência da revista nos setores que se auto-intitulam formadores de opinião. Enquanto isso, os acadêmicos permanecem encastelados, indiferentes a toda essa maré de opiniões que percorre a sociedade dos meros mortais.

sábado, 29 de setembro de 2007

Deus e o Diabo na Terra do Sol


Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) é um excelente filme, que trata da história de um trabalhador rural que se vê obrigado a fugir pelo sertão após assassinar seu patrão em decorrência de uma briga. O filme canaliza bem a aura do Cinema Novo, da tentativa de construção de uma identidade brasileira através da imagem do homem simples, rural e bucólico, distante do capitalismo urbano e das rápidas transformações que afetavam o restante da sociedade naquele momento. Ao mesmo tempo,retrata a opressão sofrida pela população rural pobre do sertão nordestino, assim como aspectos de sua cultura, como o forte componente religioso milenarista e o conflito entre os cangaceiros e seus antagonistas, os "matadô".

O ponto forte do filme está na sua trilha sonora, composta por Glauber Rocha e Sérgio Ricardo, construída de uma maneira completamente ligada com desenrolar da história. O resultado dessa interação entre filme etrilha sonora torna "Deus e o Diabo na Terra do Sol" um filme extremamente poético e altamente valorizado do ponto de vista artístico. As letras retratam a desolação do trabalhador sertanejo, que vê somente na intervenção divina uma salvação para a sua situação de penúria. Porém, tal invervenção não fica somente no terreno das idéias, já que ao mesmo tempo essa esperança religiosa incita o homem à "preparar o terreno" para a ação dos céus, combatendo as injustiças e denunciando os abusos dos patrões. Esse milenarismo é muito bem retratado na figura sinistra do personagem Santo Sebastião, religioso com um forte caráter "místico", que é obstinado com a libertação de seu povo e o fim da desigualdade entre os homens do campo.

Além disso, o filme também é marcado pela profundidade de seus personagens. Todos eles possuem uma forte carga simbólica, cada um representando um aspecto importante da cultura brasileira, sem que haja uma definição estrita, cabendo ao espectador realizar suas próprias reflexões acerca do que o filme tenta retratar.

É um bom filme, extremamente simples do ponto de vista técnico, porém muito rico em aspectos poéticos, humanos e políticos. O interessante é refletir que após 43 anos ele poderia retratar a situação quase da mesma maneira.

Tropa do senso comum

Já que na internet abundam comentários,resenhas,críticas e elogios ao filme mais comentado,pirateado,amado e odiado do cinema nacional a ALDCCC não poderia fugir a regra e dar o seu pitaco sobre o flime ''Tropa de Elite''.

Primeiramente é preciso que se diga que o flime é muito bem feito,dirigido ,conta com ótimos atores e com uma primorosa produção,que torna o filme mais real e impactante.Além disso o filme acaba levantando debates, que a sociedade brasileira a muito tempo vem fugindo,como a legalização das drogas,a estrutura e a corrupção da polícia,o papel das classes altas no tráfico de drogas e etc..Mas tudo isso acaba ficando em segundo plano diante das reações de amor e ódio em relação ao filme.

O filme gira em torno dos policiais do BOPE,e dos aspirantes a entrarem no citado,que no combate aos criminosos não ''pensam duas vezes''em lancar mão de torturas contra moradores de comunidades carentes(criminosos ou não) e culpar as classes média e altas,consumidoras de entorpecentes,pela violência na cidade.Obviamente, as classes abastadas têm responsabilidade na situação da segurança pública no país(e não somente no que tange o consumo de drogas),mas reduzir o tráfico de drogas - que é uma sofisticada rede internacional de comércio ilícito,que compreende outras redes de corrupção em todas as esferas do poder,lavagem de dinheiro,tráfico de influência e tráfico de armas-em uma relação binária de compra e venda de drogas em uma favela é tentar ''simplificar''uma questão complexa.

Com certeza,uma das razões de todo o ''amor''pelo filme pode ser creditado a figura do policial pertencente a tropa de elite da Polícia Militar.Os policiais do BOPE são retratados como incorruptíveis ,impetuosos,corajosos e utilizando métodos que violam as leis e os Direitos Humanos para conseguir seus objeitvos.Em uma sociedade onde o ''senso comum''(comungado tanto pelas classes dominantes, econômica e politicamente, quanto pelas camadas baixas,que sem sombra de dúvida são as que mais sofrem com as ações da polícia) cada vez mais caracteriza os Direitos Humanos como coisa para bandido e defende uma política de segurança pública baseada na matança e no desrespeito as leis ,a imagem construída do oficial do BOPE(que claramente lembra a imagem do poilicial americano construida pelos filmes de ação) surge como um exemplo a ser seguido e suas ações como o verdadeiro combate ao crime.

Tudo esses pensamentos e desejos do ''senso comum'',em relação à política de seguranção pública e as ações da polícia,pode ser extremamente prejudicial,já que se corre o risco de ser adotada um verdadeiro e eterno ''estado de sítio'',com a vida dos integrantes dos cidadãos,principalmente das classes baixas,cada vez mais a mercê do ''bom-humor''e da compreensão dos agentes da lei.Além de tirar o foco da discussão sobre as questões estrturais do violência,como a o papel de integrantes das classes altas como administradores das citadas redes que compõe o tráfico de drogas e a situação de desigualdade e injustiçã que reina no país.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mídia, mídia novamente

A televisão desempenha papel importantíssimo dentro do imaginário popular, desde a época de sua introdução no país, até os dias de hoje, em uma ascensão meteórica, ininterrupta e sem nenhuma perspectiva de cessar. A supremacia adquirida pela televisão em relação aos outros meios de comunicação dentro da vida do povo brasileiro deve-se principalmente à dois fatores: o "culto da imagem" e a questão do custo.

Após a invenção da televisão, o rádio torna-se "obsoleto". O advento da imagem combinada com som torna-se um grande atrativo entre as classes mais altas. Com a modernização da economia, o aparelho difunde-se também entre os setores mais pobres, onde vem a exercer uma influência cada vez maior. O "culto da imagem" foi o responsável pela decadência do rádio, já que a exibição de imagens diminui o "trabalho mental" do indivíduo, aumentando a sensação de relaxamento e entretenimento provocado pelo uso da televisão em relação ao do rádio.

Entre os estratos sociais mais baixos, a manutenção do hábito da leitura é extremamente custosa, sendo esse o maior desestímulo a essa atividade. A televisão, ao contrário, apenas requer um investimento inicial, excluindo-se evidentemente os custos relativos à energia elétrica. O difusão da televisão entre as camadas populares revela-se um método relativamente barato de entretenimento doméstico que pode ser desfrutado por toda a família, diferentemente da leitura que é por sua essência uma atividade individual.

No bojo dessa transformação radical da vida doméstica do cidadão do século XX, o capital insere-se de uma maneira impactante dentro desse contexto, através da sua paradoxal expressão maior: a propaganda, a mercadoria que constrói-se em torno da mercadoria. A publicidade rapidamente torna-se a "galinha dos ovos de ouro" da televisão. Inicialmente tímida e restrita, a propaganda televisiva cresce e torna-se mais importante que o própria programação dos canais de televisão. A duração dos intervalos comerciais cresce de uma forma exponencial, algumas vezes atingindo a situação surreal: a superação do tempo do conteúdo pelo tempo da publicidade.

O mercado em torno da publicidade torna-se um grande negócio, sendo a capacidade de iludir e convencer o espectador considerada grande vocação digna de ser remunerada por grandes somas de dinheiro. A televisão transforma-se em um catálogo de produtos dos mais variados usos. O mais irônico disso consiste no fato da maior parte dos espectadores serem oriundos da população pobre, enquanto os anúncios nem sempre seguem essa lógica.

As telenovelas, assim como os seriados, tornam-se os maiores meios de publicidade. Ao invés de restringirem-se ao anúncio de um único produto, eles vendem um estilo de vida, que como dito anteriormente, nem sempre coincide com a situação econômica da sua audiência. A população pobre, já massacrada pela sua labuta cotidiana, ao invés de procurar alternativas que lhe retirem dessa condição (como por exemplo a educação), ilude-se adquirindo produtos de utilidade duvidosa, influenciada pela propaganda televisiva. O consumismo exacerbado torna-se quase uma virtude, sendo exaltado ao mesmo tempo que seus antagonistas passam a ser encarados como aberrações sociais.

As funções sociais e educacionais das concessões de televisão, previstas na Constituição, tornam-se vagas lembranças. O espaço de tempo dedicado à programação engloba o jornalismo medíocre, as telenovelas desprovidas de qualquer profundidade artística e os programas absurdos de "auto-contemplação da programação", que dedicam-se ao culto de artistas e suas supostas vidas glamourosas. A perspectiva de uma televisão governamental, a ser inaugurada ainda neste mandato, desperta alguma esperança de uma luz no fim do túnel. Mas essa luz rapidamente se ofusca ao imaginar uma televisão estatal que contemple somente o "espetáculo do Estado".

sábado, 1 de setembro de 2007

Reacionarismos

A reação à mudança é uma atitude extremamente normal dentro da lógica da natureza. Ela é um atributo importante na manutenção de condições que garantem a sobrevivência. Constitui em um aspecto natural da totalidade dos seres vivos. Sem a estabilidade necessária em alguns aspectos, jamais a vida poderia ter surgido e prosperado dentro do planeta.

A partir daí, compreende-se que esse comportamento originalmente institivo se manifesta nas camadas mais altas do cérebro humano. O reacionarismo é um comportamento plenamente compreensível e comum a todos nós, de uma maneira ou de outra. Desde o século XIX, quando as revoltas em sua grande maioria passaram a adquirir um caráter puramente político, não ligado sendo mais dependentes de "superestruturas revolucionárias", a designação de reacionário passa a ser cada vez mais utilizada no vocabulário político. Com a explosão da consciência político-social nas grandes massas, o termo passa a definir todos aqueles que antagonizavam conscientemente contra a iminente revolução social, assim como para definir também aqueles que defendiam os valores que regiam a lógica desse grupo, como o cristianismo, o ideal de família, o machismo, etc.

Nos dias de hoje, apesar da falha do socialismo real, o termo persiste e seu uso difunde-se cada vez mais dentro da intelectualidade. Possui um aspecto pejorativo principalmente devido à "romantização" da luta revolucionária, que moldou o ideário político brasileiros nas décadas de 60-70. Até mesmo aqueles que possuem posições políticas mais conservadoras não se vêem como reacionários, ao passo de que aqueles que possuem posições políticas mais libertárias orgulham-se de exibir o título auto-proclamado de revolucionário.


Assumir-se reacionário é sobretudo uma atitude de coragem. O reacionário que de fato marca suas posições e está aberto ao diálogo e ao debate de opiniões é uma figura fundamental dentro de qualquer sociedade dita civilizada e democrática. A existência de reacionários não deve ser vista como um câncer que assola corpo social, ao contrário do que afirmam aqueles que se julgam os sumos-sacerdotes da revolução humana.

A troca de idéias é um dos aspectos mais importantes da vida humana. A complexidade da mente de cada indivíduo e a capacidade de externalizar isso tudo é uma das nossas principais diferenças em relação aos outros animais. O debate construtivo é o alicerce do "progresso", independente da atribuição do termo. O intelectual imerso em seus próprios livros, distante da discussão e do debate, é como um uma bela casa construída para não ser habitada: falta-lhe um componente para lhe dar sentido.

O reacionarismo destrutivo seria aquele cujos adeptos não se reconheceriam como tal, e tratariam suas convicções socio-econômicas como verdade absoluta e incontestável, devendo sua vontade prevalecer de maneira suprema e toda a oposição ser aniquilada. A contradição consiste no fato de que muitos que se julgam os maiores combatentes do reacionarismo se encaixam dentro dessa descrição. Advogar pela resistência às mudanças não está limitado somente ao aspecto da realidade externa, mas também se manifesta dentro da realidade interna da mente do homem. Todo invidívuo que recusa a repensar suas próprias idéias e abrir mão de seus dogmas é um reacionário, seja ele defensor da privatização ou da estatização absoluta de todos o setor de saúde. Nessa questão especificamente, o aspecto político-ecônomico que Marx tanto enfatizava ser a base da sociedade pode acabar sendo uma "superestrutura" diante da aversão à mudanças da própria mente do indivíduo. Cabe a nós refletir e tentar chegar a uma conclusão, que certamente jamais será alcançada, por que assim como na história da humanidade, a mudança é uma constante dentro das nossas concepções de idéias e de mundo.

Pedro

A UNE FAZ 70 ANOS

A União Nacional dos Estudantes(e o movimento estudantil como conhecemos) fez no dia 13 de agosto 70 anos de vida e como toa boa septagenária a UNE(e o ME)vem se demonstrando cada vez mais anacrônica e caduca.
Nesse aniversário os dois se perguntam sobre os motivos da suposta despolitização do estudante(principalmente do universitário)brasileiro.Acontece que os dois não percebem que o jovem para militar hoje em dia não precisa mais preencher o perfil do ''militante profissional''-tão comum nas universidades públicas.Hoje a situação política do Brasil é diferente daquela dos anos 60 e 70-onde devido a ditadura a única forma de oposição era a esquerda ''revolucionária''e ''guerrilheira''-e o jovem que deseja militar não precisa mais se enterrar em um partido(nos moldes do PSTU,PSOL,PXX e PXY)com suas infinitas cartilhas e discursos demagógicos.
Hoje o estudante pode militar no movimento negro,homossexual,ecológico e nos famigerados movimentos de direita e religiosos. E mesmo quando o ME tenta representar os ''marginalizados'' do poder-marginalizados entre aspas porquê nenhuma forma de poder ou governo resiste sem a legitimação e perpetuação pelos comandados-eles acabam repetindo um discurso mecanizado e pré-fabricado criado pelos partidos,onde a única forma de relação social é a dicotomia dominadores e dominados-não que eu negue que existam dominadores e dominados,mas é sabido que a relação social é construido por uma série de ''acordos''e negociações em que os ''dominados'' aceitam sua situação,ou abrem mão de sua participação no poder por concessões das elitas do poder.
Esse coportamento monolítico só serve para afastar os jovens que não querem ser ''doutrinados''pelas cartilhas e discursos de pretensos líderes dos estudantes, moldados a imagem e semelhança dos caçiques políticos e que usam os ME's,DCE's e CA's como trampolins para suas (nem sempre honestas) pretensões políticas.
Essa despolitização da UNE( e todo o ME) deve servir como motivo para a reflexão dos citados de seu papel nas universidades e no país.Resta saber se o ME vai ter capacidade e coragem de se reciclar e acabar com o funesto ''cabresto'' que o prende aos partidos de esquerda.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Decriptude Urbana

Após um longo período de descansos acadêmicos, o blog enfim resolve retormar suas atividades. Dessa vez tratando de um tema concreto e facilmente perceptível para qualquer indivíduo habitante de uma grande cidade brasileira. Apesar de inicialmente ser concebido como um "tema profundamente filosófico", me limitarei a abordar os aspectos superficiais da paisagem urbana brasileira nesse princípio de século. O "recorte" selecionado trata-se puramente da cidade do Rio de Janeiro, segunda maior metrópole do país, possuidora de aspectos que exemplificam muito bem a realidade vivida nas outras grandes cidades do Brasil.

A primeira característica da grande cidade brasileira é a constante presença de detritos, orgânicos ou não, nos seus pavimentos. A despeito dos bravos esforços dos funcionários municipais responsáveis pela limpeza, a grande maioria da população, tanto nas camadas mais ricas quanto nas mais pobres, não hesita de maneira alguma em desrespeitar os princípios mais básicos da civilidade. O lixo é despudoradamente atirado fora das lixeiras, assim como muitas vezes os indíviduos satisfazem suas necessidades fisiológicas nas próprias calçadas. Como consequência disso, é constante o odor de excrementos humanos nas grandes cidades brasileiras. Soma-se a isso ao fato de alguns portadores de animais domésticos colocarem os mesmos para defecar nas próprias ruas, muitas vezes sem realizar qualquer limpeza posterior.

A completa desordem do transporte urbano é outra característica marcante da grande cidade brasileira. As grandes ruas dos bairros encontram-se quase sempre congestionadas, poluídas e barulhentas. O principal fator responsável por isso é o grande número de automóveis de "passeio", símbolo da prosperidade material do capitalismo do Séc XX. É impregnada na mentalidade coletiva de todas as classes sociais a idéia da posse de um carro. O resultado dessa estranha reificação da felicidade na posse de um automóvel é um completo caos na malha urbana. O transporte coletivo é visto como um grande estorvo pelas classes mais abastadas, sendo o seu uso relegado às grande massa da população pobre. Devido à maior utilização do transporte coletivo pela população pobre, as empresas responsáveis realizam uma completa negligência na manutenção da boa qualidade do serviço. O resultado disso é um grande número de acidentes resultantes de falhas mecânicas, além de uma péssima situação para os usuários da maioria dos serviços de transporte coletivo. A circulação pela cidade, independente da maneira pela qual é feita, torna-se um fator de estresse para a maior parte das pessoas.

Outra característica da grande cidade brasileira, resultante do ritmo cada vez maior da prosperidade econômica proporcionada pelo modo de vida capitalista, é o progressivo aumento do número de grandes estalecimentos comerciais, em detrimento da presença dos pequenos estabelecimentos. Aparentemente irrelevante, essa questão se analisada com uma profundidade um pouco maior revela uma mudança muito grande no ambiente urbano e na sua população. O crescente aumento da carga horária resultante da "escravidão" do trabalho resulta em uma diminuição dos momentos de lazer e em um aumento do fator de estresse da maior parte dos indivíduos. O aumento do número de grandes estabelecimentos comerciais visa atender as demandas materiais da população de uma maneira mais rápida e ágil. Aos poucos, vai desaparecendo aquele típico "bucolismo" dos estabelecimentos comerciais do começo do século XX, dando lugar a uma mudança radical nas relações entre os indivíduos responsáveis pela compra e pela venda. Há um retrocesso nas relações humanas dentro do ambiente urbano, em prol de uma cultura que prega cada vez mais pela ausência de diálogo e interação humana. Caminha-se para um ambiente quase "cyberpunk", onde as relações humanas tornam-se cada vez mais distantes e superficiais, denunciando uma conjuntura anti-humanista.

A cidade é um grande retrato da espécie humana. A grosso modo, pode ser considerada uma extensão material da cultura e da mentalidade do homem. Refletir sobre mudanças no "habitat" de grande parte da nossa espécie é refletir sobre mudanças dentro de nós mesmos. Fica aí uma espécie de apelo para a reflexão individual, cada dia mais marginalizada e perdida nos discursos da grande imprensa e das brilhantes análises do senso comum.

Pedro

sábado, 11 de agosto de 2007

Resenha

Resenha:WEBER,Max.''A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo''.Tubinger,1904/5.
Max Weber,um dos fundadores da sociologia moderna,em seu clássico livro relaciona as idéias de algumas correntes protestantes- calvinismo,pietismo,metodismo,seitas batistas e luteranismo-acerca de predestinação,trabalho,riqueza e vocação com o nascimento de uma ideologia burguesa,que ele chama de espírito do capitalismo,e que permitiu a dominação política e social do capitalismo.
Os'' pontos altos'' do livro são a seua definição para o capitalismo e a análise das igrejas protestantes.A definição que Weber dá para o capitalismo-a utlização racional da força de trabalho,dos meios de produção e do capital para a obtenção de lucro-foge da vulgaridade daquela visão do capitalismo formado por ''burgueses inescrupulosos'' e ''trabalhadores alienados''.
Mas essa definição apresenta problemas quando Weber diferencia as sociedades pré-capitalistas e capitalistas,já que o autor vê como a diferença entre as citadas sociedades o uso racional da força de trabalho e dos meios de produção pelas últimas.Mas hoje é claro para a historiografia que todas as formas de organização social são racionais.Mas isso é perfeitamente capaz de se relevar,se considerarmos o eurocentrismo da época.
A análise das igrejas protestantes é o grande mérito de seu livro. Com a utilização dos textos dos lideres das igrejas estudadas e de estudiosos sobre o assunto,Weber consegue fazer uma análise(na medida do possível imparcial)e pormenarizada das igrejas estudadas.
A tese do livro- a ética protestante como base de uma ideologia essencialmente burguesa-talvez seja o ponto mais discutível do livro.Diante dos estudos historiográficos seja lícito supor que o ''espírito do capitalismo'' foi se formando a partir da Baixa Idade Média(com o crescimento do comércio) e na idade moderna ela já estaria bem desenvolvido,mesmo que restrito apenas aos círculos burgueses.
Diante do anacranismo da ética católica,frente a ascenção social da burguesia,e da liberda e mudanças trazidas pela reforma, a ética protestante surge como arcabouço ideológico das idéias capitalistas(ou proto-capitalistas).
Isso pode ser vistos pelos lugares que,segundo Weber, a ética protestante mais se desenvolveu.Historiadores como Perry Anderson mostram que em lugares como Holanda e Inglaterra as atividades comerciais e a importância dos burgueses eram muito importantes.Portanto os ideais calvinistas,puritanos e pietistas de trabalho como vocação,desculpabilização da riqueza,condenação dos gastos superfúlos e das atividas não-práticas encontraram terreno fértil para se desenvolverem e permitirem a expansão do espírito do capitalismo para outros setores da sociedade(e nisso Weber acerta ao afirma que a ética protestante formou uma massa de trabalhadores disciplinada e silenciosa para os capitalistas).
O livro ainda hoje,e apesar dos anacronismos,é fundamental para entender a mentalidade burguesa.Altamente recomendado.

domingo, 10 de junho de 2007

Cleptocracia

"A palavra Cleptocracia, de origem grega, significa literalmente “Estado governado por ladrões”. A cleptocracia ocorre quando uma nação deixa de ser governada por um Estado de Direito imparcial e passa a ser governada pelo poder discricionário de pessoas que tomaram o poder político nos diversos níveis e que conseguem transfomar esse poder político em valor econômico, por diversos modos.

O Estado passa a funcionar como uma máquina de extração de renda ilegal da sociedade, isto é, população como um todo, em contraposição à máquina de extração de renda legal, o sistema de cobrança de impostos, taxas e tributos dos Estados que vivem em um regime não-cleptocrático.

Todos os Estados tendem a se tornar “cleptocracia” se não ocorrer um combate real pelos cidadãos, em sociedade. Em economia, a capacidade de os cidadãos combaterem a instauração do Estado cleptocrático é fortemente correlacionada ao capital social da sociedade.

A fase “cleptocrática” do Estado ocorre quando a maior parte de sistema público governamental é capturada por pessoas que praticam corrupção política."


fonte: Wikipedia

sábado, 9 de junho de 2007

''Queima Ele Jesus''

''Queima ele, Jesus
Queima ele
Queima ele ,Jesus até torrar
Queima esse filho do Capeta''
Durante séculos melodias como essas foram usadas para espalhar o ódio e a intolerância típica das religiões,mas um grupo de jovens iluminados e guiados pelo sentimento mais puro de defesa da ortodoxia resolveram dar um novo sentido a melodias como essa e até mesmo a vida.
Esses jovens são os membros da ALDCCC que romperam com os ''grilhões do pensamento''(parafraseando o supremo sacerdote Pedro II) e transformaram os baluartes desses grilhões em sua marca registrada,no seu instrumento de indentificação.
O novo sentido é o da defesa da ortodoxia,mas não a ''falsa ortodoxia'',mas sim a defesa do álcool,das pálidas e virgens donzelas,do livre pensamento...Então reúna as pessoas que você gosta,peça várias cervejas e cante:
''Queima ele,Jesus"

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Vamos nos libertar dos grilhões do pensamento


Pois é caros camaradas eclesiásticos. Vocês envenenaram a essência da nossa espécie, corromperam nossas gerações, afastaram os seres humanos da sua real felicidade terrena, em prol de uma expectativa vã de uma vida em um mundo imaginário, onde não haveria rancor, inveja e egoismos. Um mundo perfeito, sem dúvida alguma. Um paraíso. Por que não construir tal paraíso durante a vida terrena, em vez de transformar a existência material em uma duradoura lamúria à espera da "morte libertadora" ?

O sentimento religioso por si só já é uma manifestação da intolerância. Jamais poderá haver uma real liberdade de pensamento enquanto o sentimento religioso existir. O ato de abraçar um conjunto de crenças incontestáveis e inabaláveis significa eleger uma opinião como verdadeira e assumir todas as outras como incorretas. Isso invariavelmente só gera discórdia, violência, preconceito e intolerância.

Como diria Marx, a religião é um dispositivo que visa remover a capacidade de reflexão individual do homem para torná-lo um alienado. Essa alienação segue a mesma lógica do trabalho repetitivo e mecânico, que da mesma maneira contribui para o estado catatônico da mente das grandes massas. Porém o trabalho, infelizmente, é um mal necessário para a sobreviência do indivíduo e da espécie. A religião, por sua vez, é um mal desnecessário. É um grilhão que o próprio indivíduo se acorrenta, apesar de poder se libertar a qualquer momento.

Os deuses surgiram em uma tentativa do homem antigo de explicar fenômenos naturais incompreensíveis para a mentalidade de sua época. A religião surge da inocência, do desconhecimento e do medo. Não vamos porém desprezar nossos ancestrais, já que os tempos eram outros e simplesmente não havia um "outro caminho", visto que o conhecimento científico propriamente dito surge muito posteriormente. Após muitos séculos de evolução do pensamento, o deus monoteísta surge como única alternativa. Pensar em termos politeístas nos últimos séculos é inaceitável, visto que o próprio conhecimento acerca dos fenômenos naturais se desenvolveu a um ponto que a existência de deuses para explicá-los não é mais necessária.

A ciência, por seu próprio caráter autocrítico, se renova. Não existem explicações científicas absoluta para os eventos do universo. A ciência é sobretudo incerteza, dúvida e curiosidade. A religião é certeza, convicção e resignação. Fica fácil compreender o tremendo "sucesso" das manifestações religiosas, já que o ser humano gosta de se considerar absolutamente correto. O ser humano teme a escuridão porque ela significa a incerteza à respeito da posição dos objetos. Mas a luz em excesso não acarretaria em um efeito semelhante ?

A vida significa ignorância. O conhecimento absoluto é impossível. Jamais a humanidade saberá todos os segredos da sua própria existência, assim como do universo. Vamos admitir nossa ignorância absoluta acerca da realidade. Devemos tentar remediá-las aos poucos, procurando desvendar as coisas de uma maneira relativamente lógica e compreensível. Não vamos admitir o conhecimento absoluto, a certeza e a sua arrogância característica. Se continuarmos acreditando que o nosso pensamento é correto e se aplica para todas as coisas só estaremos caminhando, cada vez a passo mais largos, para a nossa própria destruição.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Dois vídeos sobre a mídia

Não me considero um sujeito possuidor de convicções políticas definidas: sou um sujeito muito pragmático. Minhas opiniões políticas variam como o bailar de um elétron em volta do núcleo atômico, ou seja, dependem muito das circunstâncias. Mas vou postar aqui no blog dois vídeos que demonstram muito o papel da mídia televisiva e suas nefastas estratégias de poder.

O primeiro vídeo trata-se de um direito de resposta concedido ao falecido ex-governador Leonel brizola no famoso noticiário Jornal Nacional, após ter sido feita uma insinuação de que a qualidade do seu governo devia-se ao fato de ele estar "senil". Detalhe que o direito de resposta foi concedido anos depois da ofensa. O bizarro do vídeo é justamente ver uma crítica à Rede Globo feita na voz do Cid Moreira.

http://www.youtube.com/watch?v=ObW0kYAXh-8

O segundo vídeo, mais longo (1h15m), também encontrado no emule, trata-se de um documentário feito por dois Irlandeses que estavam presentes na Venezuela na época do golpe que derrubou por dois dias o presidente eleito Hugo Chávez. Trata de como o golpe foi tramado pela mídia, que influenciou os acontecimento de uma forma grotesca e descarada, fazendo uma manipulação completamente anti-ética e grosseira. Não sou simpatizante do referido presidente, mas acho importante assistir ao vídeo, ainda mais nesse contexto de discussão do fechamento da RCTV (que é uma das protagonistas do vídeo). Chama-se A Revolução Não Será Televisionada (The Revolution will not be televised) e foi exibido a alguns anos atrás na TV Câmara, ocasião na qual eu assisti somente a metade. Então, esses dias, seguindo a recomendação do nosso querido amigo Lucas Beraldo, eu baixei e assisti.

Eis o link para o Google Video
http://video.google.com/videoplay?docid=-3258871973505291549&q=Revolu%C3%A7%C3%A3o+televisionada

Quem possuir conexão lenta, ou não tiver paciência de baixar o vídeo, pode me entregar um CD durante as aulas que eu gravarei com o maior prazer.

Pedro

Goliardos




Os Goliardos eram uma tendência de protesto nascida dentro do seio da Igreja Católica, durante o século XIII. Não formavam um grupo organizado propriamente dito, mas sim indivíduos de pensamento relativamente parecido que se reuniam para compor poesias satirizando a Igreja, a soceidade e os costumes medievais. Sua origem é essencialmente urbana, universitária. Tratavam-se de indivíduos ligados ao clero, visto que durante a idade média o ensino universitário era intrinsecamente ligado à Igreja. Construíram inúmeras obras, sendo uma das mais famosas a chamada "Carmina Burana", uma coletânea de mais de 1000 poemas e canções, que no século XX deu origem à ópera homônima, organizada pelo compositor Carl Orff.


Eis dois poemas tipicamente goliardos:

"Sou coisa leve
Tal como a folha levada pelo furacão

Tal como a neve vagando sem piloto.

Como um pássaro errante pelos caminhos do ar,

Não me prendem âncoras nem cordas.

A beleza das raparigas atingiu-me no peito.
As que não posso tocar, possuo-as com o coração.

Reprovam-me em segundo lugar o joogo. Mas ainda que o jogo
Tenha-me deixado nu e com o corpo frio, meu espírito se aquece.
É então que a minha musa compõe as melhores canções.
Em terceiro lugar, falemos do cabaré

Quero morrer na taverna
Onde os vinhos estarão próximos da boca do moribundo
Descerão depois os coros de anjo cantando:
Que Deus seja clemente com este bom bebedor"

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"Mais ávidos de volúpia do que de salvação eterna,
A alma morta, eu não me preocupo senão com a carne.


Como é duro domar a natureza!

E, à vista de uma bela mulher, continuar puro de espírito.

Os jovens não podem seguir uma lei tão dura
E não ter cura para seu corpo disposto"


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Referência bibliográfica:
LE GOFF, J. Os Intelectuais da Idade Média

Livro muito bom por sinal, sugiro que leiam: trata-se de uima leitura extremamente rápida e proveitosa. Isso é ... depois que a nossa querida Biblioteca Central do Gragoatá voltar ao seu estado normal, sem greve.

Não tenho conhecimento de livros tratando exclusivamente dos goliardos, infelizmente. Caso alguém conheça, fica aí o pedido de alguma recomendação, porque eu me interessei bastante. A ópera também é excelente, facilmente encontrada na loja do Tio Mula. Ficam aí as recomendações.


Pedro

Movimento Estudantil

Primeiramente, gostaria de ressaltar que considero importante a participação dos estudantes na defesa de seus próprios interesses dentro da universidade. Repetindo: "defesa de seus próprios interesses". Chega a ser absurda a tamanha "politização" do dito movimento estudantil: PC do B, PSOL, PSTU, PXX, PXY, PYY ...

Será que os indivíduos engajados nessas legendas de fato representam o real interesse dos estudantes ? Ou será apenas representam o interesse de suas respectivas agremiações, travestidos de campeões da causa estudantil ? Prefiro ficar com a segunda opção, não pelo fato de considerar-me reacionário ou algo do gênero, mas sim por ser realista.

Outra crítica que considero importante trata da questão da panfletagem. Será que realmente é preciso investir tanto dinheiro (oriundos de seus respectivos partidos) na produção de incontáveis panfletos para serem distribuídos mecanicamente para leitores desinteressados, em sua grande maioria, que logo em seguida "deixarão cair" o bendito papel no chão, dificultando ainda mais o trabalho dos sofridos funcionários da limpeza ? Eu não acho que seja necessário: bastaria construir alguma espécie de mural, onde seriam afixados panfletos de conteúdo político.

Não pretendo tecer aqui uma longa crítica acerca do movimento estudantil, até porque não possuo cacife para isso: o meu conhecimento à respeito é muito pequeno, limitando-se a observações empíricas realizadas por um estudante de segundo período. O intuito do post é justamente expor a minha opinião para eventuais leitores supostamente interessados.

O movimento estudantil deveria ser mais espontaneísta. Não estamos lidando com massas operárias ou camponesas, mas sim com estudantes universitários de um curso relativamente politizado. Os estudantes não precisam de uma liderança, de uma orientação partidária ou doutrinária, para reivindicar seus direitos, "estabelecendo pautas" ou "plenárias". Afinal de contas, se há tanto espontaneísmo para fazer uma romaria ao bar, por que não pode ocorrer isso no movimento estudantil ? Fica lançada aí a pergunta.

Abaixo a influência nefasta dos partidos políticos. Que todos os representantes dessa escória sejam queimados na fogueira da Santa Igreja (apenas para ressaltar o caráter religioso do blog).

Pedro

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Defesa da ortodoxia

Caros amigos e seguidores,após uma reunião da cúpula da ALDCCC na nossa ''igreja verde'',ou seja,no gramado ficou acertado que a partir de agora sera criado o TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO ALDCCC,com o claro objetivo de defesa da ortodoxia perante a quantidade crescente de hereges,sóbrios,capitalistas ,noveleiros e todo esse tipo de gente.
A cúpulade tão nobre instituição é formada por:
São Pedro das virgens e pálidas donzelas(ou papa Pedro II),São Saulo dos conhecimentos etílicos,são Charlie das duplas personalidades alcoólicas e santa èrika dos roxos cabelos.Guiados pelo sentimento mais nobre de defesa do que é certo(e não adianta discordar!!)eles decidiram que o único jeito de limpeza dos ímpios é a fogueira.
Diante de suas infinitas sabedorias eles perceberam que a única salvação a tão nefastas pessoas é a desintegração de seus corpos.Os hereges depois de admitirem que estão errados(e estão errados!!)serão banhados em cachaça,vodka...Serão queimados ao som do hino de Purificação-aquele mesmo que pede a um líder político travestido de entidade religiosa e ''filho de Deus''queime os filhos de um tal de capeta.Depois terão seus corpos purificados pelas bebidas sagradas:Absinto e Cerveja.
Portanto se você é um dos hereges lebre-se que estamos com nossos ''comissários e familiares''em todos os lugares,vigiando a todos.Só nós somos onipresentes e onicientes.

Emílio

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Ele vai voltar para salvar nossas almas

"Vejo, mas não sei se vejo:
o certo é que me cheira
que me vem honrar à Beira
um Grande do pé do Tejo.

Formas, cabos e sovelas,
lavradinhas com primor,
mandareis abrir, Senhor.
Muitos folgarão de vê-las.

Mas, ai! que já vejo vir
o Presbítero Maior
a riscar todo o primor,
que outra vez há-de surgir.

Este sonho que sonhei
é verdade muito certa,
que lá da Ilha Encoberta
vos há-de chegar este Rei."

Gonçalo Bandarra, poeta luso, profeta do retorno do eterno rei D.Sebastião

São Guinefort


Em uma de minhas leituras relacionadas à história do cristianismo (vide final do post), deparei-me com um episódio um bocado inusitado: a história de São Guinefort, o "cachorro-santo". Após um episódio ocorrido no século XIII, no território da atual França, o cão se tornou conhecido e foi objeto de veneração. Vou contar a história aqui no blog, esperando não falhar a minha memória, já que não possuo mais aqui o material que li isso especificamente (apesar da história ser bem famosa nos círculos de história medieval).

No século XIII, perto da cidade de Lyon, um homem sai de casa, deixando em casa o seu filho, ainda bebê, aos cuidados de um cão, chamado Guinefort. Então, uma enorme cobra entra dentro da casa. Guinefort, em uma atitude corajosa, a ataca e mata, ficando então extremamente sujo do sangue da cobra. O homem, ao retornar para sua casa, avista o cão ensanguentado e, pensando que o mesmo devorou a criança, o mata. O homem então percebe o erro que havia cometido: avista o cadáver da cobra e a criança sã e salva. Arrepende-se então e joga cão em um poço, cobre-o com pedras e planta árvores em volta, fazendo uma espécie de "santuário". A história é espalhanda pela a comunidade em que vivia. As pessoas então passam a venerar o túmulo do cão, ao qual foram atribuidos muitos milagres. A Igreja Católica prontamente classifica tal adoração como heresia e a proíbe. Mesmo assim, cresce então o culto ao "São" Guinefort, que permanece até meados do século XX, apesar da proibição da Igreja Católica.

Originalmente li essa lenda em " A cristandade no ocidente: 1400-1700" do historiador inglês John Bossy, apesar de já ter visto rápidas referências, pouco detalhadas, nas obras do famoso medievalista francês Jacques Le Goff. A imagem do cão é do Google Image. Uma história um bocado interessante que nos mostra como um fato aparentemente "simples e cotidiano" pode adquirir uma tremenda conotação mítica, se tornando objeto de idolatria de inúmeras pessoas, sobrevivendo com o passar dos séculos.

São Pedro

domingo, 20 de maio de 2007

Álcool

Álcool é, sobretudo, libertação. Uma libertação da alma, acorrentada aos grilhões da sua futilidade mundana, dos seus pensamentos mesquinhos e vazios que lhes são impostos pela vida vivida de acordo com o insano ritmo da escravidão causada pelos ponteiros do relógio.

Alguns indivíduos argumentam que alcóol é fuga, covardia e falta de vontade de encarar a vida como ela é. Talvez seja. Mas o quão triste seria o mundo sem fuga, sem vontade de ir além, quão reestrito, quão obscuro. A vida não "é" algo. A vida é um conceito abstrato, vítima de uma infeliz reificação realizada por indivíduos decrépitos.

Vivemos a vida ! Bebemos ! Amemos ! Joguemos !

Pedro

"Virgens e pálidas donzelas"


Diante da hipocrisia do pífio conjunto de valores denominado Cristianismo, torna-se cada vez mais escassa a figura idealizada pelos românticos do século XIX, a "virgem e pálida donzela". Mulher de grande volúpia, que exalta grande sensualidade através de sua beleza até então intocada, cujo palor da pele sugere uma personalidade introspectiva, alheia à mediocridade cotidiana.



Pelo sumo-sacerdote Pedro

A verdadeira intenção da ALDCCC

Caros capitalistas,comunistas e cristãos,viemos por meio desta mostrar a história dessa nobre organização e suas ''causas''revolucionárias.Portanto esse este documento pode ser encarado como o ''MANIFESTO ALDCCC'',um documento histórico que provalvelmente será usado e abusado por militantes profissionais de centros acadêmicos,sindicalistas desempregados ou por historiadores falidos e mal pagos pelas instituições públicas de ensino.

''Uma nova ameaça ronda o mundo.Um fantasma ronda as autoridades civis,militares,diplomáticas e eclesiásticas constituídas.

O papa em sua recente visita ao Brasil, e ao rebanho formado por descendentes dos negros escravizados e índios criminosamente convertidos ao cristianismo,alertou que a família cristã deve proteger seus rebentos da influência satânica e maligna de jovens bêbados.

O exército americano, a CIA e a OTAN estão alerta ao ''perigo etílico'' e prontos a guerra preventiva''ao inimigo invisível que se alastra pelo mundo capitalista - cristão - ocidental.

A história de tão temida organização começa nos corredores da Universidade Federal fluminense e nos bares que rodeiam a universidade.Alunos diante da mediocridade do cotidiano e da incompetência das teorias existentes de responder as questões que afetam os corações e mentes,resolvem romper com todos...todos os alienados por sistemas falidos e obsoletos,por modelos econômicos que não conseguem solucionar os problemas do mundo e por manifestações sociais e morais travestidas de ''sobrenaturais''que se tornam anacrônicas e destoantes do mundo moderno.


Emílio

sábado, 19 de maio de 2007

Introdução(2)

Fundada por dois estudantes do curso de História da UFF,a ALDCCC é um grupo que visa romper com todas as teorias,ou como diriam os garotos podres,''falsas verdades da elite minoria''.Dois Jovens que se destacam por sua pseudo-intelectualidade de adolescentes e sua filosofia de buteco,eles creêm que a revolução(seja lá para onde isso leve)começa no bar.
Portanto preparem seus corações e mentes para muitas críticas infundadas,conversas de bêbado,elogios á ''virgens e pálidas donzelas'' que não existem...


Emílio

Introdução

Apesar do título pomposo, a idéia do blog é justamente expor pontos de vista acerca de assuntos que possam estar de alguma maneira relacionados à história (que não envolve só o conteúdo dos livros acadêmicos, mas sim ... a história da vida humana e seus devaneios). Criado por dois estudantes do segundo período de História da Universidade Federal Fluminense.



Pedro