domingo, 14 de outubro de 2007

A réplica "narcoliberal"

Em artigo intitulado "O Argumento Narcoliberal", disponível no sítio do partido Democratas, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defende a manutenção da proibição da venda de entorpecentes. Em um breve artigo, ele critica o reforço da onda liberalizante, desencadeado pelo filme Tropa de Elite. O autor tenta desqualificar os argumentos supostamente defendidos por tais "narcoliberais", taxando-os de absurdos e adotando um tom de ridicularização de tais argumentos.

Demóstenes simplifica a questão ao encarar os "narcoliberais" como um bloco homogêneo, integralmente adepto da teoria do "libera-geral". Dentro do movimento pela liberação das drogas há uma grande diversidade de opiniões, muitas vezes conflitantes. Liberar que tipo de drogas ? De uma maneira gradual ou instantânea ? Quais estabelecimentos receberiam autorização para exercer tal comércio ? Tamanha simplificação ignora completamente o amplo debate existente entre os indivíduos que advogam a liberalização das drogas, assim como suas controvérsias.

Fazendo um paralelo com a publicidade do álcool e do tabaco, o autor faz piada acerca da sup0sta publicidade ridícula que surgiria após a legalização do comércio de entorpecentes ("Haveria a maconha da boa? A cocaína que desce redondo? O crack que satisfaz?"). A publicidade já é ridícula em sua essência, já que consiste em uma mera tentativa de despertar sentimentos que levem o espectador a consumir tal produto, independente das suas consequências. Os mercados de bebidas alcoólicas e de cigarros nada diferem dos mercados de outros produtos quaisquer, exceto na questão moral envolvida. Questão, aliás, que parece reger o argumento do senador. Tratando-se do caráter absoluto da moral, não existe relativização, logo, não existe o debate e a troca de idéias.

A questão da saúde também é abordada em seu artigo. Demóstenes calcula que a liberalização imediata das drogas geraria imensos problemas relacionados com o sistema de saúde pública. Tal idéia consiste em uma hipótese que novamente não leva em consideração o tipo de debate existente entre os defensores da liberalização das drogas. Também não leva em consideração as diferenças existentes entre a grande variedade de tipos de droga, que afetam o funcionamento do organismo de maneiras completamente distintas. Argumenta que o sistema de saúde é ineficiente e que a legalização só iria piorar tal quadro. Ora, trata-se de uma hipótese. Hipótese, porém, que é tratada pelo autor como verdade absoluta e inconstestável, sem nenhuma demonstração de dados.

O artigo realiza uma extrema simplificação dos fatos, que empobrece ainda mais o debate existente acerca dessa polêmica questão. O assunto das drogas permanece sendo um tabu, sendo discussões sobre tal assunto consideradas ridículas ou desprovidas de sentido. Tal postura entra em contradição até mesmo com o nome assumido pelo partido do referido senador. O debate democrático parece inexistir para Demóstenes Torres, sendo a liberalização das drogas uma coisa absurda e impensável, assim como a sua reflexão completamente desnecessária e obrigatóriamente infrutífera.

Um comentário:

Anônimo disse...

O senador Demóstenes Torres é um fanfarrão!!