quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mídia, mídia novamente

A televisão desempenha papel importantíssimo dentro do imaginário popular, desde a época de sua introdução no país, até os dias de hoje, em uma ascensão meteórica, ininterrupta e sem nenhuma perspectiva de cessar. A supremacia adquirida pela televisão em relação aos outros meios de comunicação dentro da vida do povo brasileiro deve-se principalmente à dois fatores: o "culto da imagem" e a questão do custo.

Após a invenção da televisão, o rádio torna-se "obsoleto". O advento da imagem combinada com som torna-se um grande atrativo entre as classes mais altas. Com a modernização da economia, o aparelho difunde-se também entre os setores mais pobres, onde vem a exercer uma influência cada vez maior. O "culto da imagem" foi o responsável pela decadência do rádio, já que a exibição de imagens diminui o "trabalho mental" do indivíduo, aumentando a sensação de relaxamento e entretenimento provocado pelo uso da televisão em relação ao do rádio.

Entre os estratos sociais mais baixos, a manutenção do hábito da leitura é extremamente custosa, sendo esse o maior desestímulo a essa atividade. A televisão, ao contrário, apenas requer um investimento inicial, excluindo-se evidentemente os custos relativos à energia elétrica. O difusão da televisão entre as camadas populares revela-se um método relativamente barato de entretenimento doméstico que pode ser desfrutado por toda a família, diferentemente da leitura que é por sua essência uma atividade individual.

No bojo dessa transformação radical da vida doméstica do cidadão do século XX, o capital insere-se de uma maneira impactante dentro desse contexto, através da sua paradoxal expressão maior: a propaganda, a mercadoria que constrói-se em torno da mercadoria. A publicidade rapidamente torna-se a "galinha dos ovos de ouro" da televisão. Inicialmente tímida e restrita, a propaganda televisiva cresce e torna-se mais importante que o própria programação dos canais de televisão. A duração dos intervalos comerciais cresce de uma forma exponencial, algumas vezes atingindo a situação surreal: a superação do tempo do conteúdo pelo tempo da publicidade.

O mercado em torno da publicidade torna-se um grande negócio, sendo a capacidade de iludir e convencer o espectador considerada grande vocação digna de ser remunerada por grandes somas de dinheiro. A televisão transforma-se em um catálogo de produtos dos mais variados usos. O mais irônico disso consiste no fato da maior parte dos espectadores serem oriundos da população pobre, enquanto os anúncios nem sempre seguem essa lógica.

As telenovelas, assim como os seriados, tornam-se os maiores meios de publicidade. Ao invés de restringirem-se ao anúncio de um único produto, eles vendem um estilo de vida, que como dito anteriormente, nem sempre coincide com a situação econômica da sua audiência. A população pobre, já massacrada pela sua labuta cotidiana, ao invés de procurar alternativas que lhe retirem dessa condição (como por exemplo a educação), ilude-se adquirindo produtos de utilidade duvidosa, influenciada pela propaganda televisiva. O consumismo exacerbado torna-se quase uma virtude, sendo exaltado ao mesmo tempo que seus antagonistas passam a ser encarados como aberrações sociais.

As funções sociais e educacionais das concessões de televisão, previstas na Constituição, tornam-se vagas lembranças. O espaço de tempo dedicado à programação engloba o jornalismo medíocre, as telenovelas desprovidas de qualquer profundidade artística e os programas absurdos de "auto-contemplação da programação", que dedicam-se ao culto de artistas e suas supostas vidas glamourosas. A perspectiva de uma televisão governamental, a ser inaugurada ainda neste mandato, desperta alguma esperança de uma luz no fim do túnel. Mas essa luz rapidamente se ofusca ao imaginar uma televisão estatal que contemple somente o "espetáculo do Estado".

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