sábado, 29 de setembro de 2007

Deus e o Diabo na Terra do Sol


Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) é um excelente filme, que trata da história de um trabalhador rural que se vê obrigado a fugir pelo sertão após assassinar seu patrão em decorrência de uma briga. O filme canaliza bem a aura do Cinema Novo, da tentativa de construção de uma identidade brasileira através da imagem do homem simples, rural e bucólico, distante do capitalismo urbano e das rápidas transformações que afetavam o restante da sociedade naquele momento. Ao mesmo tempo,retrata a opressão sofrida pela população rural pobre do sertão nordestino, assim como aspectos de sua cultura, como o forte componente religioso milenarista e o conflito entre os cangaceiros e seus antagonistas, os "matadô".

O ponto forte do filme está na sua trilha sonora, composta por Glauber Rocha e Sérgio Ricardo, construída de uma maneira completamente ligada com desenrolar da história. O resultado dessa interação entre filme etrilha sonora torna "Deus e o Diabo na Terra do Sol" um filme extremamente poético e altamente valorizado do ponto de vista artístico. As letras retratam a desolação do trabalhador sertanejo, que vê somente na intervenção divina uma salvação para a sua situação de penúria. Porém, tal invervenção não fica somente no terreno das idéias, já que ao mesmo tempo essa esperança religiosa incita o homem à "preparar o terreno" para a ação dos céus, combatendo as injustiças e denunciando os abusos dos patrões. Esse milenarismo é muito bem retratado na figura sinistra do personagem Santo Sebastião, religioso com um forte caráter "místico", que é obstinado com a libertação de seu povo e o fim da desigualdade entre os homens do campo.

Além disso, o filme também é marcado pela profundidade de seus personagens. Todos eles possuem uma forte carga simbólica, cada um representando um aspecto importante da cultura brasileira, sem que haja uma definição estrita, cabendo ao espectador realizar suas próprias reflexões acerca do que o filme tenta retratar.

É um bom filme, extremamente simples do ponto de vista técnico, porém muito rico em aspectos poéticos, humanos e políticos. O interessante é refletir que após 43 anos ele poderia retratar a situação quase da mesma maneira.

Um comentário:

Luís Emílio disse...

Muito bom o texto e o filme...