A reação à mudança é uma atitude extremamente normal dentro da lógica da natureza. Ela é um atributo importante na manutenção de condições que garantem a sobrevivência. Constitui em um aspecto natural da totalidade dos seres vivos. Sem a estabilidade necessária em alguns aspectos, jamais a vida poderia ter surgido e prosperado dentro do planeta.
A partir daí, compreende-se que esse comportamento originalmente institivo se manifesta nas camadas mais altas do cérebro humano. O reacionarismo é um comportamento plenamente compreensível e comum a todos nós, de uma maneira ou de outra. Desde o século XIX, quando as revoltas em sua grande maioria passaram a adquirir um caráter puramente político, não ligado sendo mais dependentes de "superestruturas revolucionárias", a designação de reacionário passa a ser cada vez mais utilizada no vocabulário político. Com a explosão da consciência político-social nas grandes massas, o termo passa a definir todos aqueles que antagonizavam conscientemente contra a iminente revolução social, assim como para definir também aqueles que defendiam os valores que regiam a lógica desse grupo, como o cristianismo, o ideal de família, o machismo, etc.
Nos dias de hoje, apesar da falha do socialismo real, o termo persiste e seu uso difunde-se cada vez mais dentro da intelectualidade. Possui um aspecto pejorativo principalmente devido à "romantização" da luta revolucionária, que moldou o ideário político brasileiros nas décadas de 60-70. Até mesmo aqueles que possuem posições políticas mais conservadoras não se vêem como reacionários, ao passo de que aqueles que possuem posições políticas mais libertárias orgulham-se de exibir o título auto-proclamado de revolucionário.
Assumir-se reacionário é sobretudo uma atitude de coragem. O reacionário que de fato marca suas posições e está aberto ao diálogo e ao debate de opiniões é uma figura fundamental dentro de qualquer sociedade dita civilizada e democrática. A existência de reacionários não deve ser vista como um câncer que assola corpo social, ao contrário do que afirmam aqueles que se julgam os sumos-sacerdotes da revolução humana.
A troca de idéias é um dos aspectos mais importantes da vida humana. A complexidade da mente de cada indivíduo e a capacidade de externalizar isso tudo é uma das nossas principais diferenças em relação aos outros animais. O debate construtivo é o alicerce do "progresso", independente da atribuição do termo. O intelectual imerso em seus próprios livros, distante da discussão e do debate, é como um uma bela casa construída para não ser habitada: falta-lhe um componente para lhe dar sentido.
O reacionarismo destrutivo seria aquele cujos adeptos não se reconheceriam como tal, e tratariam suas convicções socio-econômicas como verdade absoluta e incontestável, devendo sua vontade prevalecer de maneira suprema e toda a oposição ser aniquilada. A contradição consiste no fato de que muitos que se julgam os maiores combatentes do reacionarismo se encaixam dentro dessa descrição. Advogar pela resistência às mudanças não está limitado somente ao aspecto da realidade externa, mas também se manifesta dentro da realidade interna da mente do homem. Todo invidívuo que recusa a repensar suas próprias idéias e abrir mão de seus dogmas é um reacionário, seja ele defensor da privatização ou da estatização absoluta de todos o setor de saúde. Nessa questão especificamente, o aspecto político-ecônomico que Marx tanto enfatizava ser a base da sociedade pode acabar sendo uma "superestrutura" diante da aversão à mudanças da própria mente do indivíduo. Cabe a nós refletir e tentar chegar a uma conclusão, que certamente jamais será alcançada, por que assim como na história da humanidade, a mudança é uma constante dentro das nossas concepções de idéias e de mundo.
Pedro
sábado, 1 de setembro de 2007
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