quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Reversão Publicitária

Diariamente somos bombardeados pelas mais variadas chamadas comerciais, sejam elas expostas através da mídia televisiva, impressa ou até mesmo invadindo o ambiente urbano, através dos anúncios expostos em outdoors. Tal situação encontra-se em um estágio tão avançado que, de forma absurdamente paradoxal, a publicidade é percebida como algo de importância tão grande quanto o próprio espaço onde ela se manifesta, seja o restante da programação televisiva, radiofônica ou até mesmo do curso de nossas vidas. Igualmente surreal é o fato de muitas vezes as próprias somas investidas na divulgação de um produto serem superiores ao próprio custo de produção do produto em si. A divulgação da mercadoria transforma-se em mais uma mercadoria, gerando inclusive os seus próprios vendedores, os publicitários.

Além da já mencionada invasão na nossa vida cotidiana, a publicidade também deve ser analisada através dos seus efeitos psicológicos. A propaganda sugere que a aquisição da mercadoria possui um papel fundamental para a construção da felicidade humana. O produto anunciado é visto como importante ferramenta para obtenção dessa felicidade, imediatamente caindo no esquecimento e na banalidade após ser adquirido. Dessa maneira, há um contínuo empobrecimento da noção de felicidade humana, que passa ser reduzida puramente ao escopo material da vida. A idéia de felicidade foca-se na aquisição. Até mesmo os elementos originalmente não-relacionados à idéia de mercadoria passam a ser englobados dentro dessa lógica, tais como o amor, a amizade e o conhecimento.

Que fazer diante desse quadro lamentável ? A Reversão Publicitária. Em que consiste isso ? Consiste no esclarecimento do espectador ao quão ridículos são os apelos da publicidade. Não através de uma atitude dogmática, ideológica ou mecânica, mas sim de uma forma a fazer o próprio espectador reconhecer o seu papel como engrenagem dentro desse jogo publicitário, negando-se a continuar exercendo tal papel. Consiste na explicitação máxima da intenção do anunciante, negando-lhe todo o mérito de criatividade ou boa intenção que normalmente lhe é atribuído. A propaganda consiste simplesmente no elogio proposital da própria mercadoria, cuja única intenção é justamente fomentar o consumo do supérfluo. Na atual sociedade, de uma maneira inversa a situação original, o consumidor é uma demanda da mercadoria. A lei da oferta e da procura transplanta-se do produto para o consumidor.

Cabe a nós somente tentar reverter esse quadro. Fica aqui o apelo à consciência individual e o posterior consenso coletivo de se explicitar o ridículo da publicidade, neutralizando os seus efeitos e libertando-nos de uma amarra mental muito presente na vida contemporânea.

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