Na semana que passou o país viu as imagens de uma tentativa de assalto à uma Lan House em Goiânia onde um policial que estava de folga matou os dois assaltantes.Diante da ameaça desse policial que reagiu ao assalto ser processado pela corregedoria da Polícia Militar a imprensa especializada em ''casos policiais'' e em violência urbana praticamente entrou em pânico.Os apresentadores desse tipo de atração justificaram a ação do policial demonstrando, através de videos de outros assaltos,a violência empregada pelos criminosos em outros atos criminosos e dessa maneira ressucitando a velha filosofia do ''bandido bom é bandido morto''na mídia brasileira.
Antes de tudo, é necessário que se diga que a ação do policial não pode ser considerada errada ou digna de punição,já que a ação não acarretou ferimento ou morte de vítima inocente e o policial mesmo quando não se encontra em serviço continua imbuído de suas obrigações de defender a lei.Talvez a única ressalva que se faça seja ao fato de o policial reagir a um assalto em local fechado e com um grande número de pessoas,o que poderia acarretar em uma tragédia com a morte de inocentes.
O que se torna incômodo nesse caso é a cobertura que parte da imprensa deu ao caso.Quiseram usar esse caso como o exemplo do que eles acreditam ser um efetivo combate a violência,ou seja,uma política de segurança pública baseada na matança,na tortura e no total desrespeito aos direitos humanos.Certos comunicadores vendem o sonho de uma polícia ''justiceira'',impetuosa no melhor estilo ''Tropa de Elite'' a um grande números de telespectadores, que muitas vezes se esquecem dos interesses(financeiros,políticos e etc.)por trás da mídia e absorvem aquela informação como uma ''verdade absoluta e inegavél'' .
Pelo Jeito, os citados comunicadores( seus fiéis e inocentes telespectadores e o cidadão ''senso-comum'') não perceberam que a política de segurança pública baseada no enfrentamento e na matança já vem sendo implementada há vários anos,com resultados extremamente negativos.O maior exemplo do fracasso dessa política é o estado do Rio de Janeiro que possuí a polícia mais ''impetuosa''do Brasil,e portanto possuí um incrível número de mortos pela polícia,mas não consegue diminuir seus indíces de violência ou diminuir a sensação de insegurança da população.
Tanto os comunicadores quanto o cidadão ''senso-comum''ignoram o que é obvio e se prendem uma idéia de personificação da violência na figura do bandido e se iludindo com a idéia de que a extinção do criminoso(s)leva a automática extinção da violência.
domingo, 28 de outubro de 2007
domingo, 14 de outubro de 2007
A réplica "narcoliberal"
Em artigo intitulado "O Argumento Narcoliberal", disponível no sítio do partido Democratas, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) defende a manutenção da proibição da venda de entorpecentes. Em um breve artigo, ele critica o reforço da onda liberalizante, desencadeado pelo filme Tropa de Elite. O autor tenta desqualificar os argumentos supostamente defendidos por tais "narcoliberais", taxando-os de absurdos e adotando um tom de ridicularização de tais argumentos.
Demóstenes simplifica a questão ao encarar os "narcoliberais" como um bloco homogêneo, integralmente adepto da teoria do "libera-geral". Dentro do movimento pela liberação das drogas há uma grande diversidade de opiniões, muitas vezes conflitantes. Liberar que tipo de drogas ? De uma maneira gradual ou instantânea ? Quais estabelecimentos receberiam autorização para exercer tal comércio ? Tamanha simplificação ignora completamente o amplo debate existente entre os indivíduos que advogam a liberalização das drogas, assim como suas controvérsias.
Fazendo um paralelo com a publicidade do álcool e do tabaco, o autor faz piada acerca da sup0sta publicidade ridícula que surgiria após a legalização do comércio de entorpecentes ("Haveria a maconha da boa? A cocaína que desce redondo? O crack que satisfaz?"). A publicidade já é ridícula em sua essência, já que consiste em uma mera tentativa de despertar sentimentos que levem o espectador a consumir tal produto, independente das suas consequências. Os mercados de bebidas alcoólicas e de cigarros nada diferem dos mercados de outros produtos quaisquer, exceto na questão moral envolvida. Questão, aliás, que parece reger o argumento do senador. Tratando-se do caráter absoluto da moral, não existe relativização, logo, não existe o debate e a troca de idéias.
A questão da saúde também é abordada em seu artigo. Demóstenes calcula que a liberalização imediata das drogas geraria imensos problemas relacionados com o sistema de saúde pública. Tal idéia consiste em uma hipótese que novamente não leva em consideração o tipo de debate existente entre os defensores da liberalização das drogas. Também não leva em consideração as diferenças existentes entre a grande variedade de tipos de droga, que afetam o funcionamento do organismo de maneiras completamente distintas. Argumenta que o sistema de saúde é ineficiente e que a legalização só iria piorar tal quadro. Ora, trata-se de uma hipótese. Hipótese, porém, que é tratada pelo autor como verdade absoluta e inconstestável, sem nenhuma demonstração de dados.
O artigo realiza uma extrema simplificação dos fatos, que empobrece ainda mais o debate existente acerca dessa polêmica questão. O assunto das drogas permanece sendo um tabu, sendo discussões sobre tal assunto consideradas ridículas ou desprovidas de sentido. Tal postura entra em contradição até mesmo com o nome assumido pelo partido do referido senador. O debate democrático parece inexistir para Demóstenes Torres, sendo a liberalização das drogas uma coisa absurda e impensável, assim como a sua reflexão completamente desnecessária e obrigatóriamente infrutífera.
Demóstenes simplifica a questão ao encarar os "narcoliberais" como um bloco homogêneo, integralmente adepto da teoria do "libera-geral". Dentro do movimento pela liberação das drogas há uma grande diversidade de opiniões, muitas vezes conflitantes. Liberar que tipo de drogas ? De uma maneira gradual ou instantânea ? Quais estabelecimentos receberiam autorização para exercer tal comércio ? Tamanha simplificação ignora completamente o amplo debate existente entre os indivíduos que advogam a liberalização das drogas, assim como suas controvérsias.
Fazendo um paralelo com a publicidade do álcool e do tabaco, o autor faz piada acerca da sup0sta publicidade ridícula que surgiria após a legalização do comércio de entorpecentes ("Haveria a maconha da boa? A cocaína que desce redondo? O crack que satisfaz?"). A publicidade já é ridícula em sua essência, já que consiste em uma mera tentativa de despertar sentimentos que levem o espectador a consumir tal produto, independente das suas consequências. Os mercados de bebidas alcoólicas e de cigarros nada diferem dos mercados de outros produtos quaisquer, exceto na questão moral envolvida. Questão, aliás, que parece reger o argumento do senador. Tratando-se do caráter absoluto da moral, não existe relativização, logo, não existe o debate e a troca de idéias.
A questão da saúde também é abordada em seu artigo. Demóstenes calcula que a liberalização imediata das drogas geraria imensos problemas relacionados com o sistema de saúde pública. Tal idéia consiste em uma hipótese que novamente não leva em consideração o tipo de debate existente entre os defensores da liberalização das drogas. Também não leva em consideração as diferenças existentes entre a grande variedade de tipos de droga, que afetam o funcionamento do organismo de maneiras completamente distintas. Argumenta que o sistema de saúde é ineficiente e que a legalização só iria piorar tal quadro. Ora, trata-se de uma hipótese. Hipótese, porém, que é tratada pelo autor como verdade absoluta e inconstestável, sem nenhuma demonstração de dados.
O artigo realiza uma extrema simplificação dos fatos, que empobrece ainda mais o debate existente acerca dessa polêmica questão. O assunto das drogas permanece sendo um tabu, sendo discussões sobre tal assunto consideradas ridículas ou desprovidas de sentido. Tal postura entra em contradição até mesmo com o nome assumido pelo partido do referido senador. O debate democrático parece inexistir para Demóstenes Torres, sendo a liberalização das drogas uma coisa absurda e impensável, assim como a sua reflexão completamente desnecessária e obrigatóriamente infrutífera.
domingo, 7 de outubro de 2007
Revista VEJA e Che Guevara
A penúltima edição da revista VEJA trouxe à sua capa a figura de Che Guevara, indício claro de que o personagem histórico seria alvo de no mínimo alguma palavra de baixo calão. VEJA se destaca ao exercer, em escala nacional, o papel de maior veículo de divulgação do pensamento da direita brasileira. Nenhuma surpresa o fato da figura de Che Guevara ser vista com repugnância pelos editores da revista, assim como da maior parte de seus leitores.
Guevara após sua morte tornou-se um mito. A idealização erguida em torno da sua figura foi uma consequência do processo de romantização das lutas revolucionária das décadas de 60-70. Milhões de jovens por todo o mundo vestiram camisas com sua imagem, muitas vezes sem possuir o menor conhecimento à respeito dos eventos ocorridos em Cuba em 1959. A figura do revolucionário, a partir daí, esteve sempre muito ligada à insatisfação típica da juventude. Muitas vezes o ato de vestir a camisa com a imagem do revolucionário consistia muito mais em uma simples demonstração de rebeldia infundada do que de admiração à pessoa em si.
A reportagem de VEJA tenta desconstruir essa imagem mítica do revolucionário. Uma tentativa justa e legítima, tratando-se VEJA de uma revista de interesse geral. O erro consiste no tipo de abordagem utilizada para realizar tal desconstrução: o destaque de aspectos negativos da sua personalidade, baseada em depoimentos de militares bolivianos e agentes da CIA infiltrados. A partir daí, conclui VEJA tratar-se Che de um sujeito arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco, paranóico, e mais um rol de adjetivos que parecem descrever a figura do próprio Satanás. Essa abordagem extremamente simplista e maniqueísta soa como ridícula, rebaixando o nível do jornalismo de VEJA a um patamar subterrâneo.
Tal atitude demonstra descaradamente a linha ideológica da revista, sempre orgulhosa de sua suposta imparcialidade. Erros e reportagens ruins existem por toda parte. O que realmente é incômodo é o fato de uma revista como essa ser reconhecida como a mais importante e influente revista semanal do Brasil, sendo considerada leitura obrigatória para qualquer cidadão desejoso de estar "antenado" diante das questões nacionais. Isso soa como ofensa ao bom senso. Dentro do meio jornalístico, VEJA é vista como piada: dedicam-se aulas inteiras de faculdades de Jornalismo para apontar os gritantes deslizes cometidos por VEJA.
Che de fato pode ter sido de fato arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco e paranóico. Mas seria um ato de extrema ignorância negar a sua importância no processo histórico do Século XX. A tentativa de VEJA é atirar a figura de Che ao ostracismo, relegando-o a um mero acidente ocorrido na história de Cuba. Acentuar as características pessoais de um personagem histórico consiste em uma tentativa atrair o interesse superficial da maioria das pessoas pelo assunto, rebaixando a história a uma mera coleção de perfis biográfico de um rol de indivíduos . A VEJA comete uma ofensa à disciplina histórica ao realizar uma reportagem tão patética e desprovida de senso jornalístico.
A idealização em torno da figura de Che Guevara é um terreno fértil para inúmeras reflexões e discussões que possuem uma grande probabilidade de serem produtivas. A reportagem não conseguiu atender a essas expectativas. Eis a explicação de seu sucesso: a ausência de reflexões mais bem elaboradas e a simplificação dos fatos, assumindo a revista um caráter de panfleto. Poderemos esperar nos próximos meses a diminuição do uso de camisas de Che Guevara, devido à influência da revista nos setores que se auto-intitulam formadores de opinião. Enquanto isso, os acadêmicos permanecem encastelados, indiferentes a toda essa maré de opiniões que percorre a sociedade dos meros mortais.
Guevara após sua morte tornou-se um mito. A idealização erguida em torno da sua figura foi uma consequência do processo de romantização das lutas revolucionária das décadas de 60-70. Milhões de jovens por todo o mundo vestiram camisas com sua imagem, muitas vezes sem possuir o menor conhecimento à respeito dos eventos ocorridos em Cuba em 1959. A figura do revolucionário, a partir daí, esteve sempre muito ligada à insatisfação típica da juventude. Muitas vezes o ato de vestir a camisa com a imagem do revolucionário consistia muito mais em uma simples demonstração de rebeldia infundada do que de admiração à pessoa em si.
A reportagem de VEJA tenta desconstruir essa imagem mítica do revolucionário. Uma tentativa justa e legítima, tratando-se VEJA de uma revista de interesse geral. O erro consiste no tipo de abordagem utilizada para realizar tal desconstrução: o destaque de aspectos negativos da sua personalidade, baseada em depoimentos de militares bolivianos e agentes da CIA infiltrados. A partir daí, conclui VEJA tratar-se Che de um sujeito arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco, paranóico, e mais um rol de adjetivos que parecem descrever a figura do próprio Satanás. Essa abordagem extremamente simplista e maniqueísta soa como ridícula, rebaixando o nível do jornalismo de VEJA a um patamar subterrâneo.
Tal atitude demonstra descaradamente a linha ideológica da revista, sempre orgulhosa de sua suposta imparcialidade. Erros e reportagens ruins existem por toda parte. O que realmente é incômodo é o fato de uma revista como essa ser reconhecida como a mais importante e influente revista semanal do Brasil, sendo considerada leitura obrigatória para qualquer cidadão desejoso de estar "antenado" diante das questões nacionais. Isso soa como ofensa ao bom senso. Dentro do meio jornalístico, VEJA é vista como piada: dedicam-se aulas inteiras de faculdades de Jornalismo para apontar os gritantes deslizes cometidos por VEJA.
Che de fato pode ter sido de fato arrogante, sedento por sangue, malcheiroso, maníaco e paranóico. Mas seria um ato de extrema ignorância negar a sua importância no processo histórico do Século XX. A tentativa de VEJA é atirar a figura de Che ao ostracismo, relegando-o a um mero acidente ocorrido na história de Cuba. Acentuar as características pessoais de um personagem histórico consiste em uma tentativa atrair o interesse superficial da maioria das pessoas pelo assunto, rebaixando a história a uma mera coleção de perfis biográfico de um rol de indivíduos . A VEJA comete uma ofensa à disciplina histórica ao realizar uma reportagem tão patética e desprovida de senso jornalístico.
A idealização em torno da figura de Che Guevara é um terreno fértil para inúmeras reflexões e discussões que possuem uma grande probabilidade de serem produtivas. A reportagem não conseguiu atender a essas expectativas. Eis a explicação de seu sucesso: a ausência de reflexões mais bem elaboradas e a simplificação dos fatos, assumindo a revista um caráter de panfleto. Poderemos esperar nos próximos meses a diminuição do uso de camisas de Che Guevara, devido à influência da revista nos setores que se auto-intitulam formadores de opinião. Enquanto isso, os acadêmicos permanecem encastelados, indiferentes a toda essa maré de opiniões que percorre a sociedade dos meros mortais.
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