quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Platoon

O filme, escrito e dirigido por Oliver Stone, se passa em 1967 e 1968 e mostra o dia-a-dia de um batalhão de infantaria na Guerra do Vietnã (1965 – 1975), as emboscadas dos Vietcongues, a “política” do batalhão, a desilusão da soldadesca e etc. O personagem principal do filme é um recruta chamado Chris Taylor, que imbuído pela idéia de defender o país abandona a faculdade e se alista voluntariamente para lutar no Vietnã. Mas ao chegar ao campo de combate ele vê que a realidade é muito mais dura do que ele poderia supor, além da constante ameaça das emboscadas vitecongues, havia a exaustão física, as intempéries do clima e da natureza tropical e, principalmente, o desprezo pela vida dos novatos entre os veteranos de guerra no Vietnã. As cartas que Taylor escreve à avó são usadas por Stone como uma espécie de narrador dos medos, da desilusão e do desânimo físico e moral do soldado Taylor, que no fim das contas era o medo, a desilusão e o desânimo de todos os recrutas do Vietnã.


O filme acaba retratando como o clima de insensatez e insanidade da Guerra do Vitenã (melhor retratado no clássico Apocalypse now) leva os soldados a se dividirem entre os “idealistas” ou “pacifistas” ou os que gostam da guerra e de seu clima de “liberdade”. Os primeiros, diante do inferno da guerra, passam o tempo de serviço contando os dias para sua dispensa (conseguida após 1 ano de serviço), preferem não pensar na guerra em si, simplesmente atiram e cumprem ordens e acabam encontrando refúgio nas drogas e no álcool. Esse tipo é representado pelo Soldado King. Os segundos gostam do clima de impunidade da guerra. Stone mostra que muitos desses indivíduos são frustrados socialmente ( a maioria só estudou até a sexta série e estão fadados a uma vida medíocre e de pobreza) e ao chegar à Guerra se tornam patológicos. Eles acabam se tornando assassinos quase que compulsivos, pessoas insensíveis diante do sofrimento humano, psicopatas em potencial. Esse tipo é representado pelo Soldado Bunny


A “guerra civil” dentro do Batalhão entre sgt. Elias e o sgt. Barnes pode ser encarado como uma alegoria da luta interna dos soldados divididos entre os preceitos de amor ao próximo, compaixão, perdão e etc. , ensinados pelos pais, pelas igrejas, pelas escolas, e a realidade da Guerra, onde esses sentimentos têm cada vez menos espaço. Taylor (assim como a maioria dos soldados) se vê dividido entre os oficiais citados e ora tem arroubos de crueldade ora pratica atos de altruísmo, como salvar uma vietnamita de um estupro.

O filme vale a pena de ser visto, já que além da direção e de atuações ótimas, relata um dos períodos mais conturbados e complexos dos EUA de maneira crítica e humana, sem ufanismos ou proselitismos de esquerda ou de direita. Mesmo sem ser o melhor filme sobre o período, ao mostrar o conflito interno entre o “soldado” e o “homem” Platoon se tornou um clássico do cinema. Ao mostrar a guerra (e suas conseqüências sociais e psicológicas ) de maneira direta Stone cumpre a função de um veterano da Guerra do Vietnã, que nas palavras finais de Taylor são “nunca deixar que essa história caía no esquecimento” .